Última atualização divulgada em congresso mundial, em março de 2020

No I Congresso Mundial da International Veterinary Pigeons Association que decorreu no último mês de Março, na cidade de Varsóvia, na Polónia, foi abordada a relação entre os pombos e o vírus Influenza A (Gripe Aviária) pela professora Celia Abolnik, microbiologista especializada em doenças aviárias, tendo ficado claro que estas aves não têm significado epidemiológico na manutenção e disseminação da doença.
Na sua intervenção, Celia Abolnik, que é professora titular da Faculdade de Ciências Veterinárias da Universidade de Pretória (África do Sul), na área de Saúde e Produção de Aves, baseou-se em vários estudos para afirmar que “os pombos são propagadores e disseminadores ineficazes dos vírus de Gripe Aviária de Alta Patogenicidade e de Gripe Aviária de Baixa Patogenicidade”.
Depois de descrever o vírus e a sua evolução, a autora referiu que “algumas pessoas argumentam que a estreita ligação entre os pombos selvagens e os seres humanos em habitats urbanos e em explorações avícolas, e os movimentos internacionais de pombos-correio, para eventos de competição, colocam os columbídeos numa categoria de alto risco para a introdução e transmissão de vírus da Influenza Aviária”. Em consequência, “os riscos que os columbídeos representam na ecologia e epidemiologia da Influenza Aviária têm sido exaustivamente investigados ao longo de várias décadas”, sublinhou Abolnik, que é autora de mais de meia centena de artigos científicos sobre doenças de aves, principalmente Influenza Aviária, doença de Newcastle, bronquite infecciosa e micoplasmas aviários.

Segundo a investigadora, de 1985 a 2013, “os cientistas investigaram pombos selvagens e de carne em mercados em estudos realizados na Ásia, Europa, África, América do Norte, Caribe e Austrália, geralmente em regiões onde surtos de Gripe Aviária de Alta Patogenicidade (GAAP) estavam a ocorrer”. A especialista sublinha que nesses estudos foram avaliados dois parâmetros-chave: a presença de anticorpos específicos para influenza A no soro, o que é indicativo de uma exposição recente ao vírus, e a presença do próprio vírus na ave. “Em doze estudos que incluíram 2.046 pombos, 8,01% das aves apresentaram resultados positivos quanto à exposição a vários subtipos de vírus de Influenza Aviária (H1Nx, H5Nx, H9Nx), com base na deteção de anticorpos. Em 29 estudos que pesquisaram a presença do vírus usando testes de deteção molecular ou isolamento de vírus, apenas 1,1% dos 6.155 pombos eliminavam ativamente níveis detetáveis do vírus. Nestes apenas as estirpes H3Nx, H7Nx, H9Nx e H14Nx foram identificadas”, destacou.
A professora descreveu ainda que, de 1944 até 2013, foram realizados estudos clínicos específicos para “avaliar diretamente a suscetibilidade e a capacidade dos pombos de transmitir o vírus”. Segundo a microbiologista, todos os estudos clínicos, realizados tanto com estirpes de Gripe Aviária de Alta Patogenicidade como com estirpes de Gripe Aviária de Baixa Patogenicidade revelaram que, “no espectro de suscetibilidade e capacidade de transmitir o vírus”, os pombos:“não mostram sinais clínicos quando infetados com vírus de Gripe Aviária de Alta Patogenicidade, são propagadores e transmissores ineficientes do vírus (especialmente para outras aves) e não facilitam a mutação do vírus de Gripe Aviária de Baixa Patogenicidade para o de Alta Patogenicidade”. Além disso, “os estudos mostraram que os pombos não tinham significado epidemiológico na transmissão e disseminação do vírus da Gripe Aviária de Alta Patogenicidade”.
As três primeiras ondas de transmissão intercontinental (2005 a 2015) foram avaliadas em vários desses estudos, sustentou Celia Abolnik. Contudo, a quarta onda causou “uma mudança notável na ecologia e epidemiologia do vírus” que atingiu, pela primeira vez, o continente norte-americano e a ponta sul do continente africano”, afetando muitas espécies de aves selvagens e domésticas. “Será que a evolução do vírus foi tal que, depois de 2015 o status de risco dos pombos mudou?”, questionou a investigadora, dirigindo-se ao público presente no congresso.
Para perceber se assim foi “uma nova ronda de estudos” foi realizada na Coreia, China, EUA, África do Sul e Bélgica, explicou a oradora. “Os resultados desses estudos foram semelhantes aos realizados antes de 2015”, assegurou, concluindo então que “biologicamente, prevalece o status de longa data dos columbídeos como propagadores e disseminadores ineficazes dos vírus de Gripe Aviária de Alta Patogenicidade e de Gripe Aviária de Baixa Patogenicidade: o pombo não tem significado epidemiológico na manutenção e disseminação da influenza aviária”.
Notícia produzida pelo Gabinete de Comunicação da Federação Portuguesa de Columbofilia a partir da intervenção da professora Celia Abolnik, no I Congresso Mundial da International Veterinary Pigeons Association, e com revisão do médico Dr. David Barros Madeira.